Segunda-feira. Duas horas da tarde. O ar-condicionado do ônibus incomodava tanto quanto o estômago que já previa a breve viagem de duas horas e meia de estrada. Enquanto digeria os comprimidos para evitar as dores e enjôos, avistei uma cena que viria ficar no meu pensamento por toda a viagem.Já deveria fazer 10 minutos que os passageiros olhavam em direção e comentavam sobre o acontecido. Eu na volta dos comprimidos depois de um tempo fui perceber.
Havia uma menina dentro do ônibus ao lado. A emoção que transparecia dela estava adentrando a todos os nossos corações, sem ela ao menos suspeitar que estivesse sendo vista.Com a cabeça apoiada ao vidro, às mãos no cabelo e as lágrimas que caiam do rosto, ela dava adeus ao namorado.
Ele debaixo da janela, no lado de fora, tentava acalmar-la. Mandando beijos, desejos de uma boa viagem e por vezes as mesmas mãos que limpavam as lágrimas, faziam sinais para que ela o ligasse na sua tão dolorosa e triste chegada a cidade natal.O ônibus estava ao lado, a uns 5 metros de distancia. Mas a emoção que todos ali sentiam, pareciam estarem em seus lugares.
Talvez os passageiros que ali avistavam, já tivessem vivido uma situação parecida. Tanto no papel da menina que deixava o seu amor por questões de trabalho ou estudo. Ou dele que via a mulher de sua vida ir para longe. Poderiam também estar emocionados aqueles que não viveram esta situação, mas que conseguiram captar o espírito que os envolvia de amor.
Quando finalmente o meu ônibus partiu, o dela estava na estrada por alguns minutos. Mas o menino ainda estava ali, perdido, recompondo-se, estufava o peito como sinal de coragem, e garra. Aos poucos ia caindo em si e adentrava ao táxi.
A reflexão que se ouvia dos demais passageiros era:
- São novos, logo isso passa. Terão muito que sofrer e chorar nesta vida.
Minha única reflexão diante o acontecido e os comentários, não era por imaturidade.
Poderiam ser novos. Poderia ser a primeira despedida, ou estarem acostumados a saudade.
Mas penso, por que de tudo isso?
Lembrei de um trecho da música pais e filhos que diz:
“É preciso amar, as pessoas como se não houvesse amanhã”
Eles poderiam sim ter o amanhã, mas seria o mais feliz?
Nenhum SMS, webcam, declarações por email, nem ligações por celular preenche o vazio de não poder passear de mãos dadas, dos abraços e carinhos.
A saudade naquele momento ia corrompê-los, ia deixar-los sem dormir a noite, muitas lágrimas iriam cair e apenas eles, só eles saberiam do que estavam sentindo.
Gostaria que os passageiros que estavam no meu ônibus fossem casais.
Não simplesmente casais. Mas aqueles que principalmente tivessem filhos.
Também os casais que brigam pelas contas a pagar, pelo trabalho que possuem e por aquelas brigas bobas, de ciúmes e “birras“.
Ou pela falta de respeito. Até os divorciados que apenas encontram-se para falar das finanças ou do filho.
Tantas pessoas querendo estarem próximas, felizes e não podem tanto por compromissos ou por proibições.
Os sentimentos de alegria e sofrimento estão dentro de nós, por tanto somente nós podemos mudar. Talvez o nobre casal de adolescentes não tenha forças para isso. Ou por estarem presos a uma faculdade ou por negação dos pais.
Mas gostaria que os pais, eles e todos aqueles que presenciaram o episódio reflitam mais sobre a vida, do que estamos fazendo com ela e com as pessoas que estão ao nosso redor.